Achados e Perdidos

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Sonhadora


Reúno aqui, palavras, idéias e sentimentos. Se algum deles for seu e você não quiser que aqui estejam, me avise. Se algum deles for de alguém e estiver sem crédito, me conte. Espero que algum texto lhe toque assim como me tocou.


27 setembro 2006

São Cosme e Damião






Não importa o que diga o calendário, 27 de setembro será para mim sempre o Dia de Cosme e Damião. Dia de Alegria com crianças nas ruas e muito doce.
Dia que lembra infância, felicidade, despreocupação.
Bons tempos que ainda podem voltar.

Uma questão de honra


Li esta manhã:

"... Uma variedade de jóias chegava em remessas regulares, aos cuidados de um portador de confiança, enviado por Genevieve Holmes, assistente pessoal do príncipe no Palácio de St. James. As caixas com as jóias, embrulhadas em papel de seda branco, encrespado, eram de Kenneth Snowman, da joalheria Wartski, de Londres ... Agora era minha tarefa desembrulhar e expor as jóias numa bandeja de madeira, que eu colocava sobre um suporte, no canto da biblioteca ... Quando eu saía do aposento, o príncipe Charles escolhia uma peça para Camilla Parker Bowles, e as restantes voltavam a ser empacotadas e eram devolvidas.

Contudo, o príncipe nunca esquecia a princesa. Para o décimo aniversário de casamento, em 1991 - quando a mídia nos fazia acreditar que o casal real se detestava -, ele presenteou a esposa com um berloque para usar em seu bracelete de ouro, também presente do príncipe. Quando ela tirou o papel de embrulho, encontrou um X de ouro, de dois centímetros, um algarismo romano que simbolizava os dez anos de casamento, para juntar às letras W e H, que ele oferecera a ela em 1982 e 1984, para assinalar o nascimento dos filhos. A cada ano, ele lhe dava outro berloque, sempre de ouro: um par de sapatilhas de balé, por causa do amor da princesa pela dança; uma raquete de tênis para as aulas que ela adorava; um urso, porque ela sempre teve ursinhos; um boné de pólo; uma maçã e, numa atitude comovente, uma miniatura de ouro de St. Paul's Cathedral, onde tinham se casado.

A princesa valorizava muito o bracelete e o guardava no cofre. O casamento podia passar por problemas, mas aquele era um lembrete especial de todos os bons momentos, ela dizia"

In "Uma questão de honra", de Paul Burrell.


Este é um livro imenso que se ler rapidamente. É rápido por não ser profundo. Lemos sem meditar, sem parar para analisar, pensar, refletir. De fácil disgestão, rs. E claro, sem muito conteúdo ...

Mas esta passagem me tocou por ser eu capaz de detalhes como este de ao longo dos anos ir acrescentando berloques cheios de significados à um bracelete.

Pareceu-me uma atitude tão cheia de sentimentos, tão própria de alguém sensível como nunca imaginei que o príncipe Charles pudesse ser.

Mas o que me intrigou mesmo foi a dualidade ... Esta dualidade me é mais difícil de entender. Há alguns anos atrás, eu até condenaria. Hoje intriga-me mas sem nenhuma condenação. Creio que este foi um grande aprendizado: não condenar.

Hum, creio que mais alguns anos e ainda acabo sendo protagonistas de muitas dualidades. Ou não! rs.

26 setembro 2006

Drummond - Eu, etiqueta


Acabei de ler em um outro blog este poema de Drummond e o estou postando aqui para guardá-lo comigo e para que possa encantar algum possível visitante.



Eu, Etiqueta

Carlos Drummond de Andrade
"Eu, Etiqueta". Corpo, Rio de Janeiro, Record, 1984


Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
EM minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
COm que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, incrível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhava,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrina me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.


06 setembro 2006

Aprendi


Texto recebido hoje em um PPS.


Um dia desses, enquanto esperava a vez na sala de espera de um consultório médico, percebi, solta entre as revistas, uma folha de papel. A curiosidade fez com que a tomasse para ler o conteúdo. Era uma bela mensagem que alguém havia escrito. O título, interessante e curioso: "Aprendi"...Dizia o seguinte:

Aprendi que eu não posso exigir o amor de ninguém, posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e ter paciência, para que a vida faça o resto.

Aprendi que não importa o quanto certas coisas sejam importantes para mim, tem gente que não dá a mínima e eu jamais conseguirei convencê-las.

Aprendi que posso passar anos construindo uma verdade e destruí-la em apenas alguns segundos.

Que posso usar meu charme por apenas 15 minutos... depois disso, preciso saber do que estou falando.

Eu aprendi... Que posso fazer algo em um minuto e ter que responder por isso o resto da vida.

Que por mais que se corte um pão em fatias, esse pão continua tendo duas faces... e o mesmo vale para tudo o que cortamos em nosso caminho.

Aprendi... Que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser... e devo ter paciência.

Mas, aprendi também, que posso ir além dos limites que eu próprio coloquei.

Aprendi que preciso escolher entre controlar meus pensamentos ou ser controlado por eles.

Que os heróis são pessoas que fazem o que devem fazer "naquele" momento, independentemente do medo que sentem.

Aprendi que perdoar exige muita prática. Que há muita gente que gosta de mim, mas não consegue expressar isso.

Aprendi... Que nos momentos mais difíceis, a ajuda veio justamente daquela pessoa que eu achava que iria tentar piorar as coisas.

Aprendi que posso ficar furioso, tenho direito de me irritar, mas não tenho o direito de ser cruel.

Que jamais posso dizer a uma criança que seus sonhos são impossíveis, pois seria uma tragédia para o mundo se eu conseguisse convencê-la disso.

Eu aprendi que meu melhor amigo vai me machucar de vez em quando... E que eu tenho que me acostumar com isso.

Que não é o bastante ser perdoado pelos outros... eu preciso me perdoar primeiro.

Aprendi que, não importa o quanto meu coração esteja sofrendo, o mundo não vai parar por causa disso.

Eu aprendi... Que as circunstâncias de minha infância são responsáveis pelo que eu sou, mas não pelas escolhas que eu faço quando adulto.

Aprendi que, numa briga, eu preciso escolher de que lado estou, mesmo quando não quero me envolver.

Que, quando duas pessoas discutem, não significa que elas se odeiem; e quando duas pessoas não discutem, não significa que elas se amem.

Aprendi que, por mais que eu queira proteger os meus filhos, eles vão se machucar e eu também. Isso faz parte da vida.

Aprendi que a minha existência pode mudar para sempre, em poucas horas, por causa de gente que eu nunca vi antes.

Aprendi também que diplomas na parede não me fazem mais respeitável ou mais sábio.

Aprendi que as palavras de amor perdem o sentido, quando usadas sem critério.

E que amigos não são apenas para guardar no fundo do peito, mas para mostrar que são amigos.

Aprendi que certas pessoas vão embora da nossa vida de qualquer maneira, mesmo que desejemos retê-las para sempre.

Aprendi, afinal, que é difícil traçar uma linha entre ser gentil, não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas em que acredito.

Com essa folha de papel eu aprendi que ainda tenho muito a aprender... E você??

04 setembro 2006

Posto 6


"No escritório despojado, a ostentação começa e termina na janela. Olhando do Posto Seis, a praia de Copacabana é outra coisa. Forma um doce recôncavo. O Pão de Açúcar, assim de viés, mal se reconhece como a mesma pedra dos cartões-postais. Na boca da Baía de Guanabara ele é um canino agudo. Dali, saindo de trás da pedra do Leme, vira um plano inclinado do mirante até o mar e não parece mais só, como em seu retrato oficial para turistas, tirado sempre da enseada de Botafogo. Perfila-se na cordilheira, meio seca, meio submersa, embaralhando montanhas e ilhas até a costa do Rio de Janeiro escorregar pelo horizonte. Do parapeito do escritório enxerga-se a mais rica coleção de encostas cariocas preservadas do mercado imobiliário e da favelização. Um Rio como os índios o entregaram aos portugueses no século XVI. Nenhum edifício ou barraco. Nenhum estrago. Só as bromélias e as palmeiras encrespam o basalto à beira do oceano Atlântico. E, para agravar a injusta concentração de vista, é exatamente dessa direção que brotam o sol e a lua, estabelecendo situações em que, com o mar coberto por uma nata resplandescente, qualquer um pode cometer loucuras. E loucuras são o que não falta na história da Janela"


In "Oscar Niemeyer : Ribeiro de Almeida Soares", de Marcos Sá Corrêa