Pedrinho
A morte de um menino de 5 anos lembra o caso Isabella
A morte de um menino de 5 anos choca o interior de São Paulo e chama a atenção pelas semelhanças com o caso Isabella Nardoni. Para a polícia, a mãe e o padrasto do garoto são os principais suspeitos. Mas os dois negam tudo.
A morte de um menino de 5 anos choca o interior de São Paulo e chama a atenção pelas semelhanças com o caso Isabella Nardoni. Para a polícia, a mãe e o padrasto do garoto são os principais suspeitos. Mas os dois negam tudo. A reportagem é de Valmir Salaro.
Uma música foi escolhida pelo pai para homenagear a memória de Pedrinho. Pedro Henrique Marques morreu na manhã de 12 de junho, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Para a polícia, foi um crime e a mãe e o padrasto do menino, de 5 anos, estão envolvidos.
Testemunhas dizem: o casal tinha um relacionamento bastante tumultuado.
“Ele implicava com o menino, com o jeito que ela educava a criança. Ele tinha muito ciúme do menino com ela”, conta uma testemunha.
Vítimas da mesma idade e suspeitos que negam tudo. As semelhanças com o caso Isabella Nardoni intrigam os policiais.
“Todo mundo muito comovido com Nardoni, então, tudo pode ser meio perigoso. Vamos apurar, vamos ver e aí eu comecei as investigações”, afirmou a delegada Maria Beatriz de Campos.
Pedro Henrique, o Pedrinho, morava em um condomínio com a mãe, Kátia Marques, de 27 anos, e o padrasto, Juliano Gunello, de 37. Em depoimento, os dois disseram que o menino poderia ter bebido um produto tóxico, usado para tirar manchas.
“A criança, poucos minutos depois começa a passar mal, começa a amolecer, eles a deitam, dizem que começa a se debater”, questiona a delegada.
Vizinhos relatam ter ouvido uma briga, pouco antes da morte do menino. Os ruídos sugeriam uma agressão.
“Ele falava muito alto, ela também. Até que chegou uma hora em que ela gritou: ‘Pára, pára, chega’. Eu ouvi três barulhos, como se fossem três socos”, lembra uma vizinha.
Diante da suspeita de um crime, o corpo foi exumado poucas horas depois do enterro. Em uma análise preliminar, os peritos não encontraram substância tóxica e constataram que o menino apresentava vários hematomas pelo corpo e duas fraturas no pulso direito.
Segundo os legistas, a causa da morte foi embolia gordurosa pulmonar.
“Essa fratura desencadeou um fluxo de células gordurosas que caíram na corrente sanguínea, que por sua vez foram bombeadas para o pulmão, causando obstrução de artérias, levando a óbito”, declarou José Eduardo Velludo, diretor do Centro Médico Legal de Ribeirão Preto.
Em uma análise mais recente, outra descoberta.
“Esse garoto tinha mais duas fraturas, a nível de costelas. Esse ferimento na costela pode ter acontecido de um mês para menos”, diz o médico legista João Arnaldo Damião Melki.
Os pais de Pedro Henrique são Kátia Marques e o policial militar Odair Rodrigues. Eles se separaram e, há cerca de um ano, Kátia e o menino passaram a morar com Juliano, que é representante de laboratório. Ele tem uma filha, também de 5 anos.
A menina costumava ficar com Juliano, Kátia e Pedro Henrique nos fins de semana.
“A menina tinha um quarto de princesa. O menino, o quarto dele era no escritório, que é um cubículo que mal cabe uma cama”, conta uma mulher.
Pedro Henrique vivia sozinho, triste, praticamente abandonado pelos corredores do condomínio. Só podia voltar para casa à noite. Segundo os moradores, com muita freqüência, ele apresentava hematomas no corpo e ferimentos no rosto.
“Ele falava que tinha caído da cama, ou então que tinha machucado na escola”, diz mais uma vizinha.
“Uma vez eu ouvi, até eu escutei os tapas e a criança chorando, baixinho”, conta outra.
“Eu sou mãe também, então eu sinto por isso, porque ele era uma criança boazinha, não era uma criança teimosa”, diz outra mulher.
Os vizinhos contam que chamaram a polícia várias vezes e que denunciaram o caso ao conselho tutelar, mas nada foi feito. O pai de Pedrinho diz que chegou a ver os machucados. O menino ficava com ele a cada 15 dias, na cidade de Araraquara, a cerca de 100 quilômetros de Ribeirão Preto.
“Ele contava que estava no skate, meus coleguinhas me empurraram e eu bati a cara no portão”, disse o pai de Pedro, Odair Donizete Rodrigues.
Para a polícia, há indícios de que Pedro Henrique sofria agressões constantes dentro de casa. A delegada pediu a prisão temporária da mãe e do padrasto, na tentativa de esclarecer as circunstancias da morte do menino. A Justiça negou o pedido, alegando que ainda não há provas suficientes de que o casal tenha matado Pedro Henrique.
A mãe e o padrasto do menino deixaram o condomínio e não quiseram falar ao Fantástico sobre as acusações. O advogado do casal diz que as denúncias não passam de intriga e que Pedro Henrique nunca foi vítima de agressões ou negligência.
“Ele chegou a apresentar hematomas espontâneos, que segundo o pediatra seria de origem emocional. A mãe chegou a levar até o médico, porque realmente apareciam alguns hematomas que não tinham a menor justificativa. Agora daí tirar a ilação de que houve maus tratos, acho que estão partindo para o campo da imaginação”, declarou o advogado Luiz Carlos Bento.
Hoje, dez dias depois da morte, o corpo continua no Centro Médico Legal de Ribeirão Preto, para a conclusão dos laudos. Os legistas têm uma missão: revelar exatamente o que vinha acontecendo com o menino e se houve um assassinato.
“Ele era o meu professor e me deu muita coisa, foi pouco tempo, mas foi bem válido”, alega o pai de Pedro.
Um esclarecimento: no vídeo desta reportagem um dos entrevistados foi identificado erradamente. Luiz Carlos Bento é advogado da mãe e do padrasto do menino e não pai do menino, como aparece na legenda do vídeo.
Matéria apresentada no Fantástico (http://fantastico.globo.com/) em 22 de junho de 2008.
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM845149-7823-O+MISTERIO+DA+MORTE+DE+PEDRINHO,00.html