Achados e Perdidos

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Sonhadora


Reúno aqui, palavras, idéias e sentimentos. Se algum deles for seu e você não quiser que aqui estejam, me avise. Se algum deles for de alguém e estiver sem crédito, me conte. Espero que algum texto lhe toque assim como me tocou.


28 agosto 2006

Os Homens de Minha Vida








Não há ordem de preferência. O único critério, se assim se pode dizer, é que são homens talentosos e que me marcaram ao longo de minha vida por sua obra, vida, exemplo, sonhos, fantasias, caráter, dignidade e pelos quais sou apaixonada! Nenhum precisa de apresentação ou justificativa.
Creio que minha primeira paixão foi Ícaro e seu desejo de voar. Logo depois estava apaixonada por Santos Dumont. E a vida foi me presenteando com outras paixões ... e continuo apaixonada por cada um até hoje! Eu, uma eterna apaixonada. E como não ser por estes homens?


Chico Buarque ( O primeiro e com direito a "uis" calientes)
Carlos Drummond de Andrade
Santos Dumont
Ícaro
Paulinho da Viola
Cândido Portinari
João Cândido Portinari
Oscar Niemeyer
Machado de Assis
Pablo Neruda
Fernando Pessoa
Ivo Pitanguy
Shakespeare
Ludwig van Beethoven
Vincent van Gogh
Wolfgang Amadeus Mozart
São Francisco de Assis
Vianinha (Oduvaldo Vianna Filho)
Chacal (personagem de Frederick Forsyth)
Frank Sinatra
Sammy Davis Jr
Raul Seixas
Luiz Melodia
James Dean
Marlon Brando
Camilo Cienfuegos
Juan Almeida
Antoine de Saint-Exupéry e O Pequeno Prícipe
Pinóquio e Gepeto
John Boy (Os Waltons)
Eu/DF
Um Pianista, alto, magro, cabelos claros, olhos azuis e cujo olhar e sorriso eu nunca esqueci





Foto: Walter Craveiro/Flip 2004 /Divulgação

25 agosto 2006

Minha Mãe faz Aniversário






Feliz Aniversário Mãezinha!!!!!!!!!!!!!
Amo você!

Hoje é o dia do aniversário de Minha Mãe.
Sim, ele nasceu no Dia do Soldado mas a historinha que vou deixar aqui em sua homenagem é sobre Peter, O Pequeno Herói da Holanda.
Adoro a Holanda e a história do menino que com seu dedinho tapando o buraquinho no dique salvou todo um país sempre me lembrará minha mãe. O porquê, eu não sei ... só lembro dela conversando comigo e comentando sobre a história, dizendo que aprendeu na escola, talvez seja um desejo meu de ficar próxima dela ainda criança na escola ...




O Pequeno Herói da Holanda



A Holanda é um país cuja maior parte do território fica abaixo do nível do mar. Enormes muralhas chamadas diques são o que impede o Mar do Norte de invadir a terra, inundando-a completamente. Há séculos o povo se esforça para manter as muralhas resistentes, a fim de que o país continue seco e em segurança. Até as crianças pequenas sabem que os diques precisam ser vigiados constantemente e que um buraco do tamanho de um dedo pode ser algo extremamente perigoso.

Há muitos anos, vivia na Holanda um menino chamado Peter. Seu pai era uma das pessoas responsáveis pelas comportas dos diques. Sua função era abrí-las e fechá-las para que os navios pudessem sair dos canais em direção ao mar aberto.

Numa tarde do início do outono, quando Peter tinha oito anos, a mãe o chamou enquanto brincava: - Venha cá, Peter. Vá levar esses bolinhos do outro lado do dique para o seu amigo cego. Se você andar ligeiro e não parar para brincar, vai chegar em casa antes de escurecer.

O menino gostou da tarefa e partiu feliz da vida. Ficou um bom tempo com o pobre cego, contando-lhe sobre o passeio da vinda e o sol e as flores e os navios lá do mar.

De repente, lembrou-se da mãe dizendo para voltar antes de escurecer, despediu-se do amigo e tomou o rumo de casa.

Quando passava pelo canal, percebeu como as chuvas tinham feito subir o nível da água e que elas estavam batendo forte contra o dique, e pensou nas comportas do pai.

"Que bom que elas são tão fortes! Se quebrassem, o que seria de nós? Esses campos lindos ficariam inundados. Meu pai sempre diz as águas estão "zangadas". Parece que ele acha que elas estão zangadas por ficarem presas tanto tempo".

O menino parava a toda hora para pegar umas florzinhas azuis que cresciam à beira do caminho, ou para escutar o barulhinho dos coelhos andando pela relva. Mas, com maior freqüencia, sorria ao pensar no pobre cego que tão poucos prazeres tinha e tanto apreciava suas visitas.

De repente, percebeu que o sol estava se pondo e escurecia rápido. " Minha mãe vai ficar preocupada", pensou ele, já corendo para chegar logo em casa.

Nesse exato momento, ouviu um barulho. Parecia água respingando! O menino parou e foi procurar de onde vinha. Encontrou um buraquinho no dique por onde estava correndo um fio de água.

Qualquer criança na Holanda morre de medo só de pensar num vazamento dos diques. Peter compreendeu o perigo imediatamente. Se a água passasse por um buraco qualquer, de pequeno ele logo se tornaria grande, e todo o país seria inundado. O menino prontamente percebeu o que deveria fazer. Jogou fora as flores, desceu a encosta lateral do dique e enfiou o dedo no furo.

A água parou de vazar! E Peter ficou pensando com seus botões: "Ahá! As águas zangadas vão ficar presas. Posso contê-las com meu dedo. A Holanda não vai ser inundada enquanto eu estiver aqui."

Correu tudo bem no início, mas logo escureceu e esfriou. O menino começou a gritar bem alto: - Socorro! Alguém, venha até aqui!

Mas ninguém ouviu; ninguém veio ajudar.

Foi fazendo cada vez mais frio; o braço começou a doer e a ficar dormente. Ele tornou a gritar: - Será que ninguém vai vir aqui? Mãe! Mãe!

Mas ela já tinha procurado pelo menino muitas vezes desde que o sol se fora, olhando pelo caminho do dique até onde a vista alcançava, e decidiu voltar para casa e fechar a porta, achando que ele havia decidido passar a noite com o amigo cego, e estava disposta a ralhar com ele no dia seguinte de manhã por ter ficado fora de casa sem sua permissão.

Peter tentou assobiar, mas os dentes batiam de frio. Pensou no irmão e na irmã, aconchegados no calor de suas camas, e no pai e na mãe queridos. " Não posso deixá-los afogar. Preciso ficar aqui até que alguém venha, mesmo que passe a noite inteira."

A lua e as estrelas brilhavam, iluminando o menino recostasdo numa pedra junto ao dique. A cabeça pendeu para o lado, os ohos fecharam, mas Peter não adormeceu, pois a toda hora esfregava a mão que estava detendo o mar zangado.

"De alguma forma, eu vou agüentar!" pensava ele. E passou a noite inteira ali, contendo as águas.

De manhã, bem cedinho, um homem a caminho do trabalho achou ter ouvido um gemido enquanto passava por cima do dique. Inclinou-se na borda e encontrou o menino agarrado à parede da muralha.

- O que aconteceu? Você está machucado?

- Estou contendo a água do mar! - gritou Peter. - Mande vir socorro logo!

O alerta foi dado imediatamente. Chegaram várias pessoas com pás, e logo o furo estava consertado.

Peter foi levado para casa, ao encontro dos pais, e rapidamente todos ficaram sabendo que ele lhes havia salvo as vidas naquela noite. E até hoje, ninguém se esquece do corajoso pequeno herói da Holanda.





Texto e imagem encontrados na net no site Link do Bebê



24 agosto 2006

Aqueles dois ou, Um certo Paulistinha


Liz e Eu
Um Par? Uma dupla? Um Casal?



Liz era o nick dela.
Eu, o nick dele.
Ela vivia no Rio de Janeiro, RJ
Ele em Brasília, DF
Algumas vezes usavam a sigla dos estados nos seus nicks.
Frequentavam um certo bar.
Liz dizia: "Meu Bar"
O que melhor tinham

(teriam certeza muito tempo depois)
era a capacidade de fazer bem um ao outro.
E ao fazer bem ao outro, se faziam bem
Em uma gravação em arquivo anexo, a voz é ouvida, conhecida, reconhecida

Marca.
Tal como o toque na pele,
Uma mão no ombro,
Galeão.
Na foto, também em arquivo em anexo
Ela, Biscoito e Bolacha.
Poderia dizer que aprendi a gostar dos dois

se para gostar dos dois,
fosse necessário aprendizagem.

Não é.
Eles são Amáveis.
Sabem Amar.
Sabem se Amar.

Niemeyer 1




"Para mim a arquitetura não é tão importante, importante é a vida"

Oscar Niemeyer


Com esta frase, termina o livro "Oscar Niemeyer : Ribeiro de Almeida Soares", de Marcos Sá Corrêa, comprado ontem e cuja a leitura me delicia desde esta manhã.

Florbela para Lui


De Joelhos

Florbela Espanca



"Bendita seja a Mãe que te gerou."
Bendito o leite que te fez crescer.
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, pra te adormecer!

Bendita essa canção que acalentou
Da tua vida o doce alvorecer...
Bendita seja a Luz, que inundou
De luz, a Terra, só para te ver...

Benditos sejam todos que te amarem,
As que em volta de ti ajoelharem
Numa grande paixão fervente e louca!

E se mais que eu, um dia, te quiser
Alguém, bendita seja essa Mulher,
Bendito seja o beijo dessa boca!!

23 agosto 2006

Wilson Simonal


Conclusão tardia
Cantor não delatou Gil e Caetano durante ditadura



Revista Consultor Jurídico, 24 de setembro de 2003




O cantor Wilson Simonal, que já morreu, é inocente da acusação de ter agido como alcagüete da polícia política, durante a ditadura militar no País. A conclusão é da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB, depois de analisar um processo inédito aberto a pedido de amigos e familiares de Wilson Simonal.

Sucesso estrondoso, a carreira de Simonal entrou em rápido declínio no início da década de 70, ocasião em que o cantor foi acusado por alguns setores da imprensa de ter delatado colegas, dentre os quais Caetano Veloso e Gilberto Gil, aos órgãos de segurança.

Com a declaração de inocência, a Comissão da OAB considera desagravada a memória de Simonal, julgado sem que contra ele pesasse uma acusação formal e sem direito a defesa, conforme o devido processo legal. Pior, foi condenado pela opinião pública sem evidências que comprovassem as acusações. A última reunião sobre o assunto foi feita no dia 14 de setembro e contou com a presença do filho de Simonal, o compositor e também cantor Simoninha, e da advogada da família, Joice Ruiz.

O processo foi iniciado em janeiro de 2002. Amigos e familiares pediram providências para a reabilitação moral de Wilson Simonal, se depois de analisada a matéria se constatasse sua inocência. "A Comissão não é um tribunal para decidir sobre a questão formulada, mas proferiu sua conclusão baseada na força moral da OAB, entidade à qual se vincula", explicou o conselheiro federal Rogério Portanova (SC).

O relator da matéria no âmbito da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, o advogado Antônio Ribeiro Romanelli, explicou que a primeira preocupação foi obter o maior número possível de informações. Com base em farto material de vídeo e jornais enviados pela família, elaborou-se uma lista com dezenas de nomes de pessoas que teriam algo a falar sobre o caso.

Foram enviadas mais de cem cartas, mas inicialmente houve resposta apenas do jornalista Everaldo Lopes e de João Bastos Santana (o requerente inicial do processo). A Comisão entendeu que precisava de mais manifestações e mandou nova remessa de cartas. Responderam: Chico Anysio, Miele, Ronnie Von, o produtor musical Cláudio Manoel Mascarenhas Pimentel e Jair Rodrigues.

"Só podia acusar Wilson Simonal de ter sido delator do SNI quem não o conhecia", escreveu Chico Anysio. "Eu até admito que, por absoluta ignorância política, Simonal aceitasse vir a ser o diretor Geral do SNI, mas ser um dedo duro, quem o conheceu sabe que ele jamais aceitaria ser". Para o comediante, Simonal "incomodava a uns tantos, que não suportavam ver aquele negro com a fita na cabeça, um suíngue absoluto, um ar de modéstia e ainda cantando olhando nos olhos das moças que brigavam por um lugar nas primeiras filas exatamente para serem olhadas por ele".

O jornal O Pasquim, que teve muito prestígio na época, especialmente entre os jovens, dedicou um número inteiro às supostas delações de Simonal, "Muito me entristeceu que o Jaguar, um humorista por profissão, tenha sido capaz de dizer esta frase: Hoje eu sei que ele sempre foi inocente, mas não me arrependo do que fizemos," relatou Chico Anysio.

Notícias de jornais dos anos 90, quando Simonal tentou retomar sua carreira, dão conta de fatos importantes, segundo o relator Antonio Romanelli. O Jornal da Tarde, em sua edição de 7 de maio de 1992, informava: "Os compositores e cantores Gilberto Gil e Caetano Veloso convieram sem qualquer problema com Wilson Simonal na época áurea da TV Record e nunca levaram a sério o que Gil chama de "teia de fofocas" em torno de Simonal. Não me lembro de qualquer episódio complicado ou embaraçoso com ele, para mim é uma surpresa saber que ele foi acusado de nos ter delatado. Eu me lembro do Randal Juliano. Várias reportagens da época o apontavam como denunciador. O estranho, com relação a Simonal, é que nenhum 'dedodurado' veio a público dizer que o delator era ele".

Do processo consta, ainda, documento de caráter oficial, assinado em janeiro de 1999 pelo então secretário de Estado de Direitos Humanos, José Gregori, afirmando que, realizada pesquisa nos arquivos dos órgãos federais, especialmente do SNI e do Centro de Inteligência do Exército, não foi encontrado nenhum registro de evidências que apontem Wilson Simonal como colaborador, servidor ou prestador de serviços, mesmo como informante, dos referidos órgãos, durante o regime de exceção vivido no País. Consta, ainda, no mesmo teor, uma certidão emitida pelo gabinete do ministro do Exército e assinada, por ordem, pelo general Carlos Pereira Gil. Por se tratar de um caso excepcional, será levado à apreciação final do Conselho Pleno da OAB, em data a ser definida. (OAB).

Simonal por Falabella

Aquarela

Miguel Falabella
Jornal O Globo, Segundo Caderno, Coluna Um Coração Urbano, 29 de junho de 2000


Imagens de um país tropical e bonito por natureza Na sala de embarque, no aeroporto, um menino de 7 ou 8 anos faz uma festa com Caco Antibes, este personagem que anda colado em mim nos últimos anos. Ele ri, imita trejeitos do personagem e, depois, cansa da brincadeira e afunda o rosto num jogo eletrônico qualquer. Eu também me distraio e só volto a vê-lo dentro da aeronave, com o pai, na fileira de poltronas ao lado. Ele olha para todos os lados, corre a mão pelo braço do assento, mexe na fivela do cinto, chuta a poltrona com o calcanhar do tênis vermelho e, após alguns momentos de agitação frenética, encosta a cabeça no tecido e deixa o olhar se perder no sonho. Abro o jornal, que a aeromoça me traz com um sorriso, e há uma imensa matéria sobre a morte de Wilson Simonal. Imediatamente sou sugado pela espiral do tempo e atirado sobre o sofá forrado de plástico azul, que olhava encantado para a televisão pré-histórica. Um menino, como este aqui, a meu lado. As imagens de arquivo confundem-se com as minhas, saídas do esconderijo. O corpo magro, suado, aninhado entre a família, naqueles verões de janelas escancaradas, quando a vida lá fora movia-se em câmara lenta . O público cantando na tela da televisão e alguém que atravessava a cena com uma travessa nas mãos comentando: - Esse crioulo canta bem. - Tem suíngue - uma outra voz. - É um crioulo pernóstico - a tia, de visita, enchia a boca de sorvete de goiaba. - Eu tenho horror a crioulo pernóstico! De volta à minha poltrona, leio o resto da matéria e penso que o castigo que lhe foi imposto, o silêncio e o ostracismo, foi uma execução longa e dolorosa. Não vivi os fatos, pelo menos não na idade adulta, e não estou questionando a sentença, porque desconheço detalhes da história, mas, pelo que li nos jornais, não há provas conclusivas e há depoimentos contra e a favor, de modo que uma pergunta se instala na minha cabeça: quanto de horror a crioulo pernóstico haverá nessa condenação? Não sei... mas com o jornal aberto, na frente de meus olhos, ouvi outra vez aquela frase, com o perfume da goiaba madura de então. De qualquer maneira, culpado ou inocente, não podemos varrer o cantor que ele foi para baixo do tapete, porque não é assim que se faz. Definitivamente. Erros e acertos devem ser contabilizados. Não se justifica apagar o registro de um artista e nunca mais trazê-lo a público. Não se apaga um nome da História, de qualquer maneira. Não se apaga a história, seja ela qual for. Esse direito, não temos. É coisa de maior instância. Enfim, acabei abandonando Simonal, mas continuei no passado, porque estou cansado dos lanches de avião e não tinha trazido nenhuma leitura. Fiquei por lá, crescendo rapidamente na fantasia, pulando os anos, já adolescente, espinhas no rosto, cabelos compridos e um par de óculos inacreditável! (Meu irmão, se não me engano, foi a um show do Simonal. Eu ainda não tinha idade suficiente. Nunca temos idade suficiente, essa é que a verdade, mas tenho essa lembrança de meu irmão e minhas primas. Copiavam as gírias. A malandragem. As coisas que a gente lembra, num vôo da ponte aérea!) O menino comeu o lanche e voltou a ficar impaciente. Ele conversa um pouco comigo e perde o interesse novamente. Sei exatamente como ele se sente, eu penso. Sei o que significa um cinto de segurança. Às vezes, são insuportáveis, ainda que necessários. Houve uma época, na Ilha, que eu só pensava em atravessar a ponte e me embrenhar na selva das cidades. (Quando fiz 14 anos, peguei dois ônibus e fui sozinho a uma matinê de quinta-feira, no Teatro Copacabana, assistir a uma comédia russa. Ary Fontoura, Arlete Sales, Zilka Salaberry e um elenco enorme. Na saída, já tinha escurecido e, não sei como, acabei pegando um ônibus na Barata Ribeiro, na direção oposta a que eu deveria seguir. Saltei na altura de Ipanema, o coração batendo acelerado, completamente perdido. Pedi informações e acabei acertando o ônibus para o Centro da cidade. Olho para o talento de Ary Fontoura, contracenando comigo no "Sai de baixo", fico encantado com Arlete, que eu estou dirigindo em "A vida passa", e sempre me lembro dessa história. Eu me perdi no meu primeiro encontro com o teatro. Às vezes a gente precisa mesmo se perder para se encontrar.) Por que é que estou lembrando disso? Talvez porque eu more num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. (Às vezes, eu tenho a certeza de que Deus existe. E também tenho a certeza de que, dado ao avançado da idade, ele contraiu o mal de Alzheimer e se esqueceu da gente. Quem era mesmo que dizia isso?) O avião começa a preparar o pouso e eu arrisco uma olhada para a cidade, acabrunhada de frio. Vamos voando baixo por cima das casas, prédios e favelas. Eu acompanho o desenho dos casebres morro acima e, antes de fechar os olhos, para a aterrissagem, lembro daquele samba da Mangueira, que eu acho uma beleza: "Pergunte ao Criador/ quem pintou essa aquarela/ livre do açoite da senzala/ preso na miséria da favela". Lá embaixo, o Rio é uma aquarela cinzenta, sem as cores da sua natureza, à espera de melhores dias.

15 agosto 2006

Joaquim Ferreira dos Santos - Um passeio pelas Ruas do Centro do Rio


Toucinho do céu:
um passeio pelas ruas do Centro inspirado em Rubem Fonseca

Joaquim Ferreira dos Santos
Jornal O Globo, 16 de maio de 2005



Rubem Fonseca está fazendo 80 anos e há dez o seu personagem, Augusto, saía deste sobrado na Sete de Setembro para guiar o conto “A arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro”, um clássico da literatura urbana. Eu, sem querer vampirizar seus passos geniais, na vontade apenas de homenageá-lo, na pior das hipóteses só para dar uma balançada no meu esqueleto magro, eu estou nesse momento saindo do mesmo prédio em que morava o Augusto de Rubem Fonseca, exatamente na Sete de Setembro 137, com a diferença de que já não existe mais a luvaria Gomes no primeiro andar, mas a casa de chá Cavé. Antes de repetir Augusto e sair para dar umas pernadas pelas calçadas dos quarteirões entre a Uruguaiana e a Tiradentes, eu peço proteção às palavras que na parede da Cavé anunciam seus doces portugueses, um aglomerado delicado de atrações como travesseiro de noiva, súplica de coco, brisa do Tâmega, lampreia de ovos, cavaca de caldas, pingo de tocha, palito de Sintra, baba de chantilly, almendrado, lamego e sortido húngaro, esses toucinhos do céu deliciosos que mais parecem poesia modernista que cardápio escrito no espelho sobre a caixa do balcão.

A Sete de Setembro é uma rua cercada de camelôs por todos os lados, já era assim no tempo em que Rubem Fonseca passou por aqui com Augusto, e não é à toa que quando eu saio da Cavé e pego a calçada à esquerda, logo ao lado da casa de chá tem o escritório central do PDT com as paredes chapiscadas de cartazes gritando que Brizola vive. A rua está repleta de valas, outra prova de que o caudilho não morre, e eu apresso o passo, recolho dezenas de panfletos me prometendo dinheiro rápido, crédito fácil sem avalista, e cruzo batido a esquina de Ramalho Ortigão, onde na ponta da Carioca o tradicional bar Flora trocou a vitrine de uísque pela de garrafas de cachaça. Bêbado com todo esse charivari de ruídos e informações, entro mais adiante, no 163 da Sete, no sebo Empório Musical. Um dos LPs preciosos na parede é o “Contraste”, R$ 50, aquele em que o Jards Macalé aparece na capa tascando um beijo na morenaça que mais tarde tornar-se-ia a fabulosa escritora Ana Miranda e que ela, arrependida de ter sido flagrada em arroubo pouco intelectual, incompatível com seus atuais títulos de seriedade literária, ela proibiria para sempre a reprodução do chamego em CD. O amor acaba. O mingau com cobertura de chocolate que eu comia na lanchonete da Rua da Conceição também acabou e a senhora chinesa que ocupou a loja, “um salgado e um refresco por R$ 1,50”, não tem a mínima idéia do que eu estou lamentando. O amor, a memória, o mingau. Quase tudo acaba. Se bobear, esse trecho do Rio por onde Rubem Fonseca foi guiando seu personagem vai pelo mesmo caminho.

Joaquim Manuel de Macedo passou aqui antes de todos nós para escrever “Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro”, em 1862. Certamente não tinham grafitado “Colômbia livre” na parede do prédio da faculdade de Filosofia, provavelmente uma certa Clemilda ainda não pregara no chão em frente ao Empório Musical uma placa anunciando que bate chapinha, faz dready e trança rastafari. É quase certo ainda que magotes de prostitutas não se revezavam entre alugar o corpo para os fregueses tradicionais e as firmas, quase todas salafrárias, que lhes colocam agora uma tabuleta nos peitos e costados informando comprar ouro. Joaquim Manuel de Macedo não viu nada disso. Não comprou camiseta no quiosque do MV-Brasil na esquina de Uruguaiana dizendo que “Halloween é o cacete”. Mas já naquele passeio pela cidade concluiu, olhando ao derredor, que “a desmoralização era geral. Clero, nobreza e povo estavam todos pervertidos”.

Eu não diria tanto. Vi na Sete de Setembro uma loja de sapato chamada Kaussleve, vi mais adiante o busto de Camões, na praça Alexandre Herculano, servindo de mira para os bêbados urinarem seus pleonasmos de malte e trigo. Achei irada a “meia da loba” na vitrine das Casas Olga. Me inscrevi na Igreja de São Benedito dos Homens Preto para o festival do “Espírito sopra onde quer”. Acompanhei um boy algemado no meio da rua passando pelo rádio, para o chefe no escritório, a informação de que estava sendo preso por ter dito “palhaçada” quando um PM lhe impediu de estacionar a moto na calçada. Não me escandalizei com todas essas perversões. Pode ficar pior e — já que não bato chapinha, já que o único ouro da família vovó doou para salvar o Brasil do comunismo em 64 — resolvi mudar de ares. Atravessei o Largo de São Francisco.

Passo pela Casa Cruz na Ramalho Ortigão, por um ambulante do Mr. Empada vendendo a própria na calçada da Dama da Empada, sigo pela sapataria Charme do Pé, ali no mesmo local onde outrora Olavo Bilac encostava o pé no balcão do literário Café do Java. Vou ouvir o que o locutor Altamir Souza, 40 anos, está falando ao microfone da Requinte Magazine na esquina com Ouvidor. Ele anuncia toalhas felpudas, mas a entonação da voz e a qualidade do texto são parecidas com o que ele ouve na igreja que freqüenta, a pentecostal A Nova Jerusalém, em Rocha Miranda. A impressão é de que Altamir anuncia o Espírito Santo chegando de banho tomado.

“Que Deus dê prosperidade, bênção e boas energias a todos nessa manhã”, foi mais ou menos como ele abriu os serviços dias atrás e às vezes ficava difícil ouvi-lo, não porque faltasse fé nas orelhas que tentavam, mas porque todos os comerciantes da área colocaram um microfone nas mãos de um vendedor na calçada (“ursinho ‘eu te amo’ por R$ 5”), provocando uma babel infernal que às vezes parece mais anunciar a chegada do belzebu em seu alarido de má fé. Tomei um café na Confeitaria Manon, logo em frente, já na Ouvidor em direção à Uruguaiana. Drummond e Manuel Bandeira passavam por ali a caminho da livraria José Olympio. Só pode ter sido isso. As palavras delicadas que jogaram sobre os doces e salgadinhos no balcão permaneceram no ar e fizeram a Manom cunhar nas suas atuais toalhas de mesa o slogan poético “Desde 1942 fabricando sensações”. Achei que era hora de encerrar o passeio e agradecer a companhia que Rubem Fonseca me fez entre a Cavé e a Manon. O amor acaba, o mingau acaba. As sensações não acabam nunca.

Céu carioca


Céu carioca

Veja por que o Rio é "Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil", como dizem os versos da marchinha de André Filho.

Um dos principais sites de turismo do mundo, o http://www.expedia.co.uk
, mandou gente sua viajar ao redor da Terra por 72 dias para descobrir "o céu mais perfeito do mundo", com testes de cor, claridade, brilho etc. Venceu (não leve a mal, não) o do Rio!

Publicado na Coluna de Ancelmo Gois, Jornal O Globo, 29 de julho de 2006.

Drummond - Adeus a Sete Quedas


Adeus a Sete Quedas

Carlos Drummond de Andrade
Jornal do Brasil, Caderno B, 09/09/1982



Sete damas por mim passaram,
E todas sete me beijaram.
Alphonsus de Guimaraens


Aqui outrora retumbaram hinos.
Raimundo Correia





Sete quedas por mim passaram,
e todas sete se esvaíram.
Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele
a memória dos índios, pulverizada,
já não desperta o mínimo arrepio.
Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes,
aos apagados fogos
de Ciudad Real de Guaira vão juntar-se
os sete fantasmas das águas assassinadas
por mão do homem, dono do planeta.

Aqui outrora retumbaram vozes
da natureza imaginosa, fértil
em teatrais encenações de sonhos
aos homens ofertadas sem contrato.
Uma beleza-em-si, fantástico desenho
corporizado em cachões e bulcões de aéreo contorno
mostrava-se, despia-se, doava-se
em livre coito à humana vista extasiada.
Toda a arquitetura, toda a engenharia
de remotos egípcios e assírios
em vão ousaria criar tal monumento.

E desfaz-se
por ingrata intervenção de tecnocratas.
Aqui sete visões, sete esculturas
de líquido perfil
dissolvem-se entre cálculos computadorizados
de um país que vai deixando de ser humano
para tornar-se empresa gélida, mais nada.

Faz-se do movimento uma represa,
da agitação faz-se um silêncio
empresarial, de hidrelétrico projeto.
Vamos oferecer todo o conforto
que luz e força tarifadas geram
à custa de outro bem que não tem preço
nem resgate, empobrecendo a vida
na feroz ilusão de enriquecê-la.
Sete boiadas de água, sete touros brancos,
de bilhões de touros brancos integrados,
afundam-se em lagoa, e no vazio
que forma alguma ocupará, que resta
senão da natureza a dor sem gesto,
a calada censura
e a maldição que o tempo irá trazendo?

Vinde povos estranhos, vinde irmãos
brasileiros de todos os semblantes,
vinde ver e guardar
não mais a obra de arte natural
hoje cartão-postal a cores, melancólico,
mas seu espectro ainda rorejante
de irisadas pérolas de espuma e raiva,
passando, circunvoando,
entre pontes pênseis destruídas
e o inútil pranto das coisas,
sem acordar nenhum remorso,
nenhuma culpa ardente e confessada.
(“Assumimos a responsabilidade!
Estamos construindo o Brasil grande!”)
E patati patati patatá...

Sete quedas por nós passaram,
e não soubemos, ah, não soubemos amá-las,
e todas sete foram mortas,
e todas sete somem no ar,
sete fantasmas, sete crimes
dos vivos golpeando a vida
que nunca mais renascerá.




Queridos Amigos,

O Poema acima eu li uma única vez, no dia 09 de setembro de 1982. Estava na faculdade, Uni-Rio, e um aluno de outra turma, Olympio, nos levou o JB. Creio que ele fez este ritual em todas as turmas. Todos o leram e todos se sentiram mutilados ... aquele dia não foi um dia feliz para quem leu este Poema ... Drummond falava por todos nós, estavámos todos unidos na dor desta perda. Os anos passaram e nunca me esqueci deste Poema, nunca esquecí-me deste dia, desta dor. Ao sair da faculdade, quis comprar o JB mas este já estava esgotado. Anos depois, mais de vinte ... procurei pelo Poema na net mas não o encontrei. Hoje, fiz nova tentativa e o encontrei neste endereço: Alguma Poesia
Depois de o reler, divido-o com vocês ... minha lembrança diz que aquele 9 de setembro era um dia tão lindo como o dia de hoje aqui no Rio ... não sei se minha lembrança está correta ou não ... a sensação de perda, mutilamente e tristeza permanece a mesma ...É o passado voltando ...Mas gosto do passado me visitando. Bem-vindo Passado!

Adoro reencontros ... e o Passado sempre me reencontra. Diria que ele, o Passado, é um companheiro fiel.

Reencontrei este Poema e o coloquei em meu Orkut em 20 de março de 2006.
Hoje, dia 15 de agosto, também é um lindo dia aqui na minha Cidade ...
Lindos dias acompanhando lembranças tão tristes ...

14 agosto 2006

Vamos ler Joyce?


Vamos ler Joyce?

O sexo falado

Joaquim Ferreira dos Santos
Jornal O Globo, Segundo Caderno, 05 de janeiro de 2004.


Sexo. Não se assuste. É só uma maneira, curta e grossa, de começar o ano indo direto ao assunto. Sexo. Eu acabei de ler as cartas de James Joyce para a mulher, no volume de “Cem melhores histórias eróticas da literatura universal”, e ele só pensava nisso. Vi, tardiamente, um dos mais interessantes filmes de 2003, “Irreversível”, e lá estavam elas, em seu estado mais sublime, as quatro letrinhas que molham. Sexo. Achei que eram desculpas suficientes para introduzir, colocar, inserir, ir com tudo, cutucar, partir pra dentro, botar a língua num assunto que, gritando sempre tão alto, roubou todos esses verbos para seu uso exclusivo. Sexo. Com muito duplo sentido. Deixa, por favor, deixa, eu também meter o dedo nessa ferida. Segura só.

Tenho, por necessidade profissional, assinatura do canal Sexy Hot e confesso que ele não só já me ajudou no trabalho solitário de escrever artigos sobre televisão e o to be or not to be da existência como também me proporcionou, em noites agitadas, chegar mais rápido ao gozo supremo de fechar os olhos e, loucura, loucura, dormir bem gostoso. Custa R$ 30 ao mês e não cria a dependência química dos remédios. Recomendo.

Ver no Sexy Hot um casal depois do outro, geralmente por trás do outro, recitando ao infinito aquele mantra de “aaaaaaahhhh” e “uuhhhhhhh”, copulando segundo as normas do erotismo pornô, ver um programa desses é uma das mais eficientes versões modernas para o velho hábito de contar carneirinhos. Não tem erro. Dorme-se muuuiiito.

Sexo, no entanto, sem querer pegar carona no cronista das terças — a poesia jaboriana de que sexo é pagão, sexo é invasão — sexo, se é que eu estou ligando o nome à pessoa, sexo, se não me falha a memória, sexo é coisa que eu nunca vi passar no Sexy Hot.

Pode ser que os casais dos filmes me esperem dormir para, aí sim, adentrarem no melhor do sexo, que é quando rola a grande saliência da intimidade. Acho pouco provável. Acho, e quem acha tanto acaba se perdendo, que quando eu durmo eles correm é para fazer o mesmo, cansados da repetição daquela aeróbica truculenta. Em alguns momentos são tão repetitivos que eu já jurei ter visto um rapaz fazer nos seios de uma moça o mesmo gesto do operário do Chaplin, em “Tempos modernos”, torcendo pela milésima e triste mecânica vez os parafusos da máquina. Se eu fosse crítico de cinema poderia ver ali um sinal de metalinguagem. Mas o problema do pornô é justo esse. Mete-se tudo, menos linguagem.

Amor é inverno, sexo é verão, e esse é mais um motivo para passar um óleo de amêndoa no assunto, virá-lo de ponta-cabeça e sugerir que, devagarinho, pelas costas do Sexy Hot, se vá nesse dias quentes até a Sala Laura Alvim, de frente para o mar de Ipanema, ver “Irreversível”. O filme, na maior parte do tempo uma experiência radical de câmera e violência, traz no seu umbigo, como contraponto de felicidade, uma das mais bonitas cenas de sexo da história do cinema.

Amor pode ser livro, como quer o Jabor, mas sexo não é uma aula de educação física, como quer o Sexy Hot. Sexo, se tivesse uma cadeira, e é sempre bom que tenha uma por perto, num curso universitário não seria Anatomia. Sexo é Diplomacia. Se é que — a poucos dias do carnaval, a poucos dias da minha saudade pelas marchinhas de duplo sentido — se é que estamos falando do mesmo gentil e determinado canudo.

Eu não sabia, foi a cinéfila cubista do Estação quem me contou e nela boto tudo que é malícia e fé: o casal rolando na cama de “Irreversível”, cuspindo com carinho as mais torpes fantasias do sexo verbal na orelha do outro, é casado na vida real. Faz sentido. Nada daqueles esgares ridículos que mais parecem Jason, o carniceiro, pegando de jeito Carrie, a estranha. Nada de estocadas profundas e dolorosas. O chicote que estala na pele do casal de “Irreversível”, e daí nasce o erotismo da cena, a descoberta de novas zonas de prazer, uma diagonal molhadinha conectada do lóbulo ao quarto gomo do cerebelo — o chicote é o do verbo amoroso.

Os atores das pegadinhas do Sexy Hot dão a impressão, embora as atrizes dêem muito mais que só a impressão, de terem acabado de se conhecer no estúdio. Não se beijam na boca no intervalo das 34 posições repetidas em todos os filmes. Confundem a relação com um festival de violência física. Sexo entre desconhecidos, gente que chega ao orgasmo sem se abraçar, é broxante. Mais triste, a língua está sempre no lugar errado, é o sexo mudo desses atores pornôs. Os homens acham que o “V” da vida é o de Viagra. As mulheres acham que é de vibrador. Mas eu vi “Irreversível”. Eu também já desconfiava, meninos, e agora , depois de ler as cartas de James Joyce para Nora, no best-seller que está nas livrarias, também não tenho mais dúvida e vos digo. O “V” que estala vigor de vida no sexo é o vibra-verbo dos amantes íntimos.

Você não precisa engolir a pílula e emporcalhar o fígado de azul, não precisa comprar pilha radioativa e poluir o ecossistema. Basta jogar, dentro da orelha fria, como ensinava o jovem poeta morto, segredos de liquidificador — e agradecer a Deus pelo suco que vem, abre a boca que vem, desse chacoalhar divino de frutas. James Joyce concorda. Distante da amada, o escritor dirige-lhe em cartas palavras que recuperam o jogo amoroso dos dois. Nada a ver com as experiências formais que ele andou fazendo em “Ulysses”. Joyce enche a mão com o verbo cru dos casais. Endurece o sussurro sem perder a ternura da intenção, essa safadeza subversiva que põe nexo, graça e rima, no encontro do côncavo e o convexo.

Joyce, sempre à frente de seu tempo, já sabia. Falo sem fala não é sexo. É só Sexy Hot.

Alberto Goldin - O Segredo é saber quando mudar


O segredo é saber quando mudar

Alberto Goldin
Coluna Vida Íntima, Jornal O Globo, 22/02/2004

http://www.albertogoldin.com.br/


Meu nome é Rose e tenho 19 anos. Aos 17, conheci uma pessoa que mudou minha vida. Foi meu primeiro homem; com ele conheci a paixão, o amor, e também a dor profunda no coração. A verdade é que até hoje não consigo esquecê-lo. Já tentei muito, chorei demais. Ele sempre falou que não queria nada sério comigo e eu jamais pensei que fosse me apaixonar. Reconheço que ele foi uma passagem desastrosa em minha vida. Houve uma época que eu não dormia se não o visse. Ainda sou apaixonada, e tenho muita esperança de que algum dia poderei ser correspondida. Já se vão dois anos e os sentimentos são os mesmos. Quando fico perto dele, começo a tremer, a desejar sua boca, seu corpo, desejá-lo completamente. Às vezes penso que gosto de sofrer, chego até a desejar não ter tido nunca estes sentimentos, pois não tem dor maior que a dor do amor não correspondido. Cheguei a prometer a mim mesma que não ia mais chorar por ele, para não acordar com o rosto e os olhos inchados, como quando o vi sair com outra. Às vezes ele passa algumas horas comigo, e é pior, porque fico sozinha com minhas ilusões. Pedi conselho à minha mãe, que me disse para esquecê-lo. Não consigo me controlar, eu o amo, mas gostaria de esquecê-lo ou conquistá-lo para sempre. Peço que diga algo que me ajude. ? ROSE, Rio de Janeiro, RJ


Foi uma cena patética e inesquecível. O cenário: o Manicômio Judicial de Buenos Aires, pouco antes de me formar em medicina. Visitava o setor de pacientes crônicos, e ele ocupava um dos poucos quartos individuais — segundo corria à boca pequena, tinha esse privilégio por ser sobrinho de um famoso escritor. Quando abri a porta, o vi em pé, pálido, sujo, com barba de dois dias. Sua mão esquerda segurava o prato, enquanto a direita levava à boca um garfo com alimento, ou melhor, esse era seu objetivo, porque, na verdade, não o tinha alcançado. A mão estava na metade do caminho, entre o prato e a boca, como se o tempo tivesse parado ou algum gás paralisante o tivesse atacado. Seu olhar se perdia no vazio e pelo tempo que fiquei ao seu lado seus olhos permaneceram abertos, sem pestanejar. Parecia uma fotografia, um quadro ou um boneco de cera. Aprendi o que era “catatonia”, psicose grave na qual a vítima alterna períodos relativamente normais com outros nos quais vira uma estátua. Atualmente, estes quadros são raros, graças ao avanço da farmacologia, porém na época seu caso despertou meu interesse. Era óbvio que não conseguia se alimentar, e perguntei a seu respeito. Relataram-me que quando tiravam dele o prato de comida ou o pedaço de pão, o rapaz não reagia. Contudo, já o tinham flagrado de madrugada remexendo o lixo do hospital para recuperar seu resto de alimento, e às vezes alcançava seu objetivo. Sua doença, além da rigidez muscular, determinava que se fixasse num determinado pedaço de pão, e nenhum outro servia, inclusive correndo o risco de morrer de fome. Não podia trocar um alimento por outro. Ignoro como acabou a vida deste rapaz, mas com freqüência me surpreendo pensando no seu dramático destino. Estou feliz por interromper esta triste história para me ocupar de uma jovem saudável, como Rose, autora da carta. Nada a ver com a catatonia, porém sua história tem um ponto em comum. Desde os 17 anos ama um homem que não a ama. Para Rose, ele é o dono dos seus pensamentos juvenis. Rose não consegue substituí-lo, está condenada a amá-lo. Somente se desembaraça da sua imobilidade para procurá-lo. Rose deveria saber que o segredo da sobrevivência humana reside na capacidade de mudar, de permutar, de negociar, de trocar uma coisa por outra. Isto se aplica tanto à alimentação quanto ao amor, ainda que a “outra” coisa seja um pouco diferente da primeira. Às vezes, a troca é para pior; em outras, para melhor. Se o homem não tiver pão, poderá comer carne, ou algum vegetal. Poderá se alimentar quiçá com chocolate. Se não tiver refrigerante, serve água, talvez frutas, como a laranja, que também saciam a sede. “Se ele não me quer, talvez eu vá sair com algum amigo, ou fazer um programa com minha prima. Irei sozinha ao cinema. Algum outro solitário, com as mesmas restrições, poderá assistir ao mesmo espetáculo.” Duas solidões, quando se somam, se anulam entre si. Rose está catatônica nos seus afetos. Como é jovem, por ora a situação não é grave. Deve se lembrar, porém, de que não é prudente amar homens insubstituíveis, porque não existem. Amar é tão necessário quanto comer, e em ambas atividades o fundamental é poder negociar. Quando falta um alimento ou um homem, deve-se procurar outro, ainda que menos saboroso. As pessoas que alcançam o sucesso afetivo sabem transformar o sofrimento de uma falta na criatividade de uma procura. Caso não sejam exigentes demais, vão encontrar o que procuram (ou algo parecido). Há quem se surpreenda ao encontrar alimentos, homens e programas melhores do que imaginava. Tente negociar.








Centenário de Mário Quintana


"Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão ...
Eu passarinho!"


Na gélida noite de 30 de julho de 1906, nascia em Alegrete, RS, o Grande Poeta Mario Quintana. A estrofe acima é o famoso "Poeminha do Contra". Ter concorrido sem sucesso três vezes a um vaga na Academia Brasileira de Letras foi motivo de decepção e deste verso.Quem perdeu foi a ABL e seus imortais. Quantos destes "imortais" têm seu centenário lembrado como Mario Quintana está tendo? Muitos deles somente passaram ...

Portela por Monarco


"Se eu for falar da Portela, hoje eu não vou terminar. A Portela é o samba que nunca terá fim. As tradições de nossas raízes culturais, do homem negro, do branco, do mestiço, da paixão humana imortalizada na poesia que habita em cada esquina, cada boteco de Oswaldo Cruz e Madureira.Falar da Portela é falar de Paulo, Natalino, Clara, Ventura, Rufino, Candeia, é falar de saudade e da esperança que esses nomes trazem.Se a licença poética permite, Portela tem a beleza das deusas, representada na imagem de Oxum, a força guerreira de Oxossi, mas também tem a nobreza da Imaculada Conceição e a magnitude de São Sebastião. A Águia sempre está pronta para altos vôos.Quem tem sangue azul e branco tem a alma do samba correndo nas veias, tem a cultura enraizada do povo humilde do subúrbio, que se manifesta nas rodas de samba em todos os dias da semana.Sou portelense de fé. Por isso sou vaidoso. Minha vaidade não fere ninguém, apenas me ilumina e me faz soberano frente a todas as outras belezas que desfilam na Avenida do Samba.Quem quiser me conhecer inteiro, tem que ter amor no peito, coragem na mente e, sobretudo, sambo no pé. Venham pro samba, crianças: a Portela vai passar"


Monarco
Publicado na Revista O Globo, 26 de fevereiro de 2006

13 agosto 2006

Einstein


A Teoria da Infidelidade
Einstein contou vida amorosa em cartas para a família

Arifa Akibar, do Independent
Publicado no Jornal O Globo do dia 11 de julho de 2006



Albert Einstein foi retratado como um paquerador que gostava de descrever seus casos extraconjugais para a segunda mulher e a enteada. Uma série de 1.300 cartas escritas pelo fí­sico foram mostradas ontem pela primeira vez pela Universidade Hebraica de Jerusalém.

Numa carta à sofredora esposa, Elsa, Einstein fala sobre como algumas mulheres demonstram uma afeição indesejada. Em outra, pede à enteada, Margot, que entregue um bilhete à amante russa.

Ele tinha a reputação de ser um homem charmoso, que enfeitiçou Marilyn Monroe, e de ter tido dez relacionamentos extraconjugais. As cartas foram guardadas por Margot e liberadas duas décadas após a morte dela, segundo instruções deixadas.

Cartas anteriores revelaram como foi infeliz no casamento com Mileva Maric, de quem se divourciou em 1919 para se casar com a prima, Elsa. Nas cartas divulgadas agora, ele descreve seis mulheres com quem teve romances enquanto estava casado com Elsa. Algumas ele identifica pelo nome, como a "amante espiã russa" Margarita, enquanto outras aparecem apenas com as iniciais, como M e L.

À Elsa, ele escreve sobre M, que o acompanhou numa viagem ao exterior. "A Sra. M agiu de acordo com a melhor ética cristã-judaica: 1) alguém deve fazer o que gosta e que não prejudique ninguém; 2) não deve fazer o que aborreça os outros. Ela veio comigo e não contou a você. Não é irrepreensível?"

As cartas vão de 1912 a 1955, quando Einstein morreu aos 76 anos - quase duas décadas após Elsa. Elas mostram também como ele perdeu boa parte do dinheiro do Prêmio Nobel. De acordo com o divórcio, ele deveria ter depositado a soma num banco suiço, de onde Mileva retiraria dinheiro para ela e os dois filhos. Mas a correspondência mostra que ele perdeu a maior parte na crise da bolsa de 1929.

03 agosto 2006

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Mais perdida do que nunca!!!!